segunda-feira, 18 de agosto de 2014

VÍCTOR CHAB | Una trayectoria del surrealismo



A ideia de um diálogo com o artista argentino Víctor Chab (1930) já me perseguia há algum tempo. Certa confluência nossa indicava que tal encontro seria valioso. Já o publiquei em destaque no Brasil por duas vezes, nas revistas Xilo e Agulha. Então finalmente propus a Chab uma entrevista, enviando-lhe perguntas para que a partir delas desenvolvêssemos algo mais extenso. Nosso ritmo de vida nem sempre nos permite o sossego para realizar tudo o que desejamos. Logo me escreveu Chab optando por uma forma distinta da que lhe havia proposto. Sugere então um depoimento com base nos tópicos que eu lhe havia remetido. Nosso encontro buscava desde os primeiros momentos de Chab, relações com seus pares e geração imediatamente anterior, perspectivas do surrealismo que envolviam a passagem de uma geração a outra etc. Chab começou a descobrir uma voz própria em meio a uma circunstância onde se mesclavam denominações e conceitos dados como distintos mas que eram complementares ou tinham a mesma raiz: abstração pós-concreta, surrealismo gestual, action painting, abstração lírica etc. A este respeito disse o poeta Julio Llinás (1929) que tais modulações "responden a efímeras variaciones alrededor de un mismo nudo experimental y que ese nudo no tiene otros orígenes que el Surrealismo ni toma su vigor de otra corriente que no sea la de ese espíritu en constante evolución y desarrollo". Contudo, algumas dessas variações acabaram sendo deslocadas pela crítica acadêmica, o que impede ainda hoje a abordagem de uma influência do Surrealismo na obra de alguns artistas. Um outro aspecto envolvendo o Surrealismo diz respeito ao corte que traçou Jean Schuster entre um Surrealismo histórico - encerrado com a morte de Breton - e outro eterno. Tal contraste ou dissensão sempre me pareceu golpista, pois tem em sua raiz um princípio de tomada de poder. Não faz sentido pensar em «Surrealismo histórico», exceto se a intenção é decretar-lhe um fim. E podemos perceber um final de vida («¿cuál es tu obra póstuma?») para um surrealista, porém nunca para o Surrealismo. Naturalmente que concordamos a respeito, Chab e eu, mas o importante não é propriamente a concordância e sim o anúncio da mesma, a seguida afirmação de uma atenção contra esse tipo de distorção intencional. Uma outra curiosidade que mencionei dizia respeito a um aspecto local na Argentina dos anos 50, ou seja, quando surge, em 1958, o grupo/revista Boa (com certa destacada influência de Julio Llinás e Édouard Jaguer, numa margem e outra do Atlântico), Buenos Aires já contava com a publicação de revistas como Qué (1928), A partir de 0 (1952) e Letra y Línea (1953), por exemplo. De que maneira essa cumplicidade com o parisiense Phases contribuiria para o Surrealismo na Argentina? Até que ponto se poderia avaliar hoje afinidades e dissonâncias com o que já vinha realizando Aldo Pellegrini? Neste primeiro momento de nosso diálogo Chab aponta algumas perspectivas bastante reveladoras dos meandros de uma história que ainda não foi tocada senão em pequenos véus de seus bastidores.

VC | Desde los trece años tuve una gran atracción por las artes plásticas. Como yo desciendo de una familia de pequeños comerciantes sefardíes, muy simples, sin una cultura en la cual apoyarme, no tuve ni estímulo ni modelos, de modo que inicié mi trabajo sin idea alguna sobre mi futuro. Hacia 1950 conocí a Batlle Planas y sus discípulos Roberto Aizemberg, Julio Silva -que vive en París desde 1953- y sobre todo Juan Andralis, que fué el que me reveló el surrealismo; sus pintores, sus poetas, sus ideas, sus manifiestos, etc… Andralis, quien ya tenía una sólida cultura y en especial sobre surrealismo, poco después viajó a París y se vinculó con Andre Breton, Wifredo Lam, Tristan Tzara, y asistía a las reuniones de la Place Blanche. En una de las últimas fotos del grupo, aparece retratado junto a Breton, Max Ernst, Benjamin Pèret, Man Ray, Jean Louis Bedouin, José Pierre, etc. En esa época Guillermo Roux no figuraba en la escena de la plástica y Xul Solar, tenía un mínimo prestigio. Aún no se lo había descubierto en toda su dimensión creadora. Coincido con Julio Llinás - aunque el mismo ha negado su pasado surrealista y a pesar de que su actual poesía continúa la mejor tradición surrealista; Enrique Molina también en sus últimos años, insistió en esa negativa - en que la abstracción lírica, la action painting, aún el informalismo español, tiene una raíz surreal, sobre todo si tenemos en cuenta que todas estas tendencias están basadas en un tema fundamental para el surrealismo que es el automatismo. En cuanto a la idea de la muerte del surrealismo, no olvidemos que si bien los fundamentos del surrealismo están muy claramente expuestos en el primer manifiesto de 1924, a partir de ese mismo año se lo dió por muerto sistemáticamente, por los espíritus idiotas que no vieron más allá de sus narices. Estoy de acuerdo en que el límite que Jean Schuster establece entre el surrealismo histórico y el eterno -con la muerte de Breton- es una violencia golpista y arbitraria y totalmente innecesaria. Carece de fundamento teórico. La participación de Edouard Jaguer en la revista "Boa" -que deviene de su amistad con Llinás- fue altamente provechosa y jamás que yo sepa, entró en colisión con las ideas de Aldo Pellegrini, quien incluso llegó más lejos que Jaguer, al incluir en la selección de la exposición surrealista del Instituto Di Tella en 1967, a artistas que poco o nada tenían que ver con el espíritu del surrealismo.

FM | A partir deste momento comecei a indagar por aspectos ligados diretamente à criação, trama estética, percepções. Recordei a Chab que, ao escrever sobre uma exposição sua em Lima (Peru, 1995), disse Jorge Villacorta Chávez, a respeito do que se poderia chamar de arte contemporânea na América Latina, que ali «un barroquismo irreflexivo y plagado de efectismo ha sido ultimamente adoptado como pobre sustituto del estado de libertad salvaje que es prerrogativa de la psique llevar con violencia absoluta a la creación en arte». Talvez seja difícil para nós estabelecer até onde essa irreflexão seja resultante de uma exigência de mercado ou fruto de um daqueles momentos de refluxo onde a arte se limita a epigonismos e diluições. O fato é que existe em nosso tempo uma obsessão pelo novo, o que acaba acentuando as limitações. Em seguida observei que, mais recentemente, por ocasião de uma exposição em Buenos Aires em 2001, escreveu Aldo Galli que a pintura de Chab (atual, segundo ele) «oscila entre surrealismo y expresionismo». Em primeiro lugar eu não creio que haja uma vacilação entre dois mundos, e sim uma zona de tensão que busca uma substantiva fusão. Ernst dizia que para os impressionistas, «la retina era una inagotable fuente de placer», contrastando com uma deformação da realidade no caso dos expressionistas. O Surrealismo apaga essas fronteiras, acasalando sonho e crônica. Basta pensar em Magritte: «El surrealismo reivindica para la vida despierta una libertad parecida a la que tenemos en el sueño». O problema é que Galli aparentemente possui uma visão segregacionista ou marginalizante. Na mesma crítica diz: «aunque la imagen tiene un corte actualizado, hay detrás un oficio sostenido por todas las tradiciones de la buena pintura». Ora, penso que Magritte referia-se à pintura como «o pensamento que vê», então há que se pensar na pintura (tradição/ruptura) com tudo o que ela tem a nos oferecer. Caso contrário, um dia podem escrever a respeito de um artista: «era apenas um excepcional pintor surrealista». A partir daí observei ainda acerca da concepção de cada artista acerca da criação. Se considerarmos os postulados do Surrealismo, a inesgotável fertilidade de aspectos como humor, automatismo, maravilhoso, onirismo, exaltação lírica, é possível atentar para uma destacada presença do erotismo na obra de Chab, onde a transgressão anatômica, por exemplo, ampara-se em uma sensualidade vertiginosa, uma luxúria sem limites, a imagem afirmando-se através de uma lubricidade.

VC | En el año 2001 Aldo Galli describe mi pintura como oscilando entre el surrealismo y el expresionismo. Y bien, no solo él sostiene esta idea, sino muchos otros hablan de este maridaje. En realidad a mi no me incomoda en absoluto esta idea, porque algo tiene de real. El surrealismo ha tenido históricamente todo tipo de influencias, que no le ha quitado nada de su fuerza esencialmente revulsiva. Y en cuanto al expresionismo en particular, es un movimiento al que yo me siento ligado y que ha dado pintores de la talla de Grosz, Schiele, Dix, etc. Yo concibo el arte de pintar como el camino de la gran libertad. De igual manera que transité por caminos distintos y opuestos, en la actualidad mi obra está fijada al desnudo femenino; el cuerpo de la mujer no tiene igual como cantera para las variaciones estéticas y me produce un placer sin límites. El surrealismo tiene la particularidad maravillosa de no basarse en un corpus técnico como el cubismo, fauvismo, el neoplasticismo, donde los fundamentos están basados estrictamente en la descomposición de la figura (cubismo), la plenitud del color (fauvismo), o la geometría ortogonal (neoplasticismo). El surrealismo nos abre las puertas a lo desconocido. Todas las formas y todas las técnicas pueden adscribirse a la fantasías más delirantes: figuración o no figuración, y todas las variantes de la reunión de los contrarios.

FM | Em um momento conclusivo de nosso diálogo Chab comentou a respeito de vínculos com Brasil e Portugal, quando então mencionei a não existência - no largo roteiro internacional de suas viagens - de uma exposição dele em Portugal, onde sempre esteve muito presente o Surrealismo, destacando-se a obra de muitos artistas, dentre os quais Cruzeiro Seixas e Mário Botas, ao passo que no Brasil, país vizinho da Argentina, havia registro tão-somente de duas coletivas em 1958 e 1961, posterior a isto havendo apenas a mostra «Austral do Brasil e Cone Sul» (Bienal de S. Paulo, 1997) e sua presença como «artista convidado» da revista Agulha, em 2000.

VC | En cuanto al surrealismo portugués y al brasileño, debo confesar mi desconocimiento, no tengo la suficiente información. Debo a Perfecto Cuadrado el material que me ha enviado y que me está sacando de la ignorancia. En relación a Brasil, he intentado por diferentes medios concretar alguna muestra de mis obras, pero siempre he fracasado. Espero, en un futuro próximo, integrar estos dos países a mi trayectoria, conjuntamente a Perú, Panamá, Costa Rica, El Salvador, Colombia, Venezuela, etc.; donde realicé innumerables exposiciones. 

[Entrevista publicada na Agulha Revista de Cultura # 31 — Dezembro de 2002.]

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